[ARQUIVO] - ABSOLUT NIGHTBIRDS
Fabiano Gummo é um artista multi: facetado, midiático, sensorial. Seu trabalho transita por diversas mídias e apresenta-se em vídeos, animações, pinturas e ilustrações. Nesta entrevista, ele nos explica a sua “unificação do diferente” e nos conta o que a arte contemporânea tem de interessante.
AB: Sendo um artista multimídia, você toma o cuidado de manter uma unidade na sua produção ou cada mídia serve para dar vazão a uma necessidade de expressão diferente?
FABIANO: Como trabalho com a ideia de projeto, busco uma unidade através de diversas mídias em um mesmo projeto. Por exemplo, na minha última exposição, intitulada Abismo Branco, trabalhei com a ideia de processo poético do artista; ou seja, explorei alguns aspectos da minha própria produção. Com isso em mente, criei obras em diversas plataformas, como a instalação, o vídeo, a pintura e o objeto. De certa forma, isso permite ao observador uma profundidade diferenciada maior. Ou, se preferir, um acesso maior às sensações pretendidas. Esse é um exercício que chamo (contraditoriamente) de “unificação da diferença”.
AB: Ao criar, você costuma ter em mente uma sensação ou experiência que gostaria de suscitar no “outro”? Já aconteceu de alguém enxergar no seu trabalho algo que você nunca teria imaginado?
FABIANO: Esse é sem dúvida um assunto complexo dentro da arte contemporânea, pois está relacionado com a intenção do artista. Quando produzo faço muitas relações, sobreposições, reconfigurações e deslocamentos. Muitos desses “percursos” não chegam a ser rastreados pelo observador e acho que nem precisam ser. O que a arte contemporânea tem de interessante – e o que podemos fazer com ela – é exatamente isso: inventar significados usando a multiplicidade do olhar.
AB: Em setembro do ano passado, você expôs no Centro de Artes da UFPEL. No release dessa exposição, seu trabalho era descrito como capaz de “criar narrativas perversas, absurdas e irônicas”. Você sente que trouxe isso para as histórias de Nightbirds ou essas crônicas pediam outro tipo de retrato?
FABIANO: Os adjetivos “perversas, absurdas e irônicas” serviam como disparadores e não como limitadores. Analisando algumas obras podemos chegar a estes adjetivos e, também, a outros. Eles não precisam ser vistos como verdade última, pois é da ideia de verdade última que tento me desvencilhar. Para o projeto Nightbirds tentei entrelaçar técnicas e conceitos que trabalhei em 2012. Um deles é a pintura usando o recurso da sobreposição de camadas, outro são os quadrinhos e, por último, a colagem.
AB: Eu vi que você postou no seu blog um texto intitulado HostssX. Ele tem relação com seu trabalho pra Nightbirds? Como é esse processo de escrever sobre uma ilustração?
FABIANO: Certamente. O processo da escrita para mim é altamente carregado de possibilidades gráficas. A técnica narrativa sem pontuação, em jorro, permite extravasar conteúdos mentais da ordem do visual. Esta criação de atmosferas e “personas” é fundamental para a minha exploração de um assunto específico, no caso, o projeto Nightbirds.
AB: Qual é sua relação com a noite? Você sente que sua produção dialoga com elementos da noite e urbanidade? São temas que te interessam?
FABIANO: Para mim, a noite é a experiência de encarar o incognoscível da vida presente no óbvio. Percebo que a urbanidade dentro das várias dimensões da noite possui elementos que desafiam nossa percepção. É como se estivéssemos sendo constantemente testados por suas coincidências, suas tramas e suas improbabilidades. Essa variedade carrega histórias e personagens que, por algum motivo, se reúnem noite adentro. É dessa forma que esse assunto me atrai; pela sua crua natureza de recusa ao senso comum.