Vapor

- Em que momento da tua vida tu te viu artista? Como foi esse processo pra ti?

Acho esse "me ver artista" um problema. Penso nisso. Muito. Daí tento permanecer alerta a deslocamentos artísticos possíveis. Quero dizer com isso que procuro não vestir uma pelagem de "artista", pois para mim arte e vida estão completamente confluídas. 

- Quais são as tuas principais motivações, hoje, pra criar?

Acredito que sejam aquelas da ordem do desencontro, do desconforto, da participação e da presença. Por exemplo, se tenho uma ideia com potencialidades prático-conceituais, parece importante considerar as relações entre trabalho, vida, arte, tempo e acaso. É como aquela velha história, a criação alarga os campos de pensamento.

- O que tu tem experimentado, em se tratando de técnica e processo artístico?

Em termos de processo, continuo indo em direção às metodologias de trabalho difusas, tipo vórtex. Foi assim com o desenho/performance e continua sendo assim com a escrita, que é minha principal ação hoje. Neste momento, estou obcecado pela organização do material para a criação de um livro de artista que use o ano (e a vida) de 2015 como substrato principal.  

- Como tu vê a relação da arte nos transbordamentos cotidianos?

Se nos permitirmos evocar o pensamento da filósofa polonesa Zusi Kaglib, podemos imaginar o mundo a partir de uma estética esotérica do cotidiano. Com isso, nosso lugar para pensar a arte através desta postura enxergaria no cotidiano a própria ideia de multiplicidade. Ao mesmo tempo, pensar o cotidiano como rede que permite infinitas ficções parece (des)orientar muitas de minhas pulsões como artista.

*entrevista concedida a Mathias Moreno (13/06/2015), jornalista e escritor.